Sabemos que na nossa sociedade existe um medo generalizado das consultas no médico dentista. Com certeza, todos já ouvimos uma história de uma experiência menos agradável no médico dentista. Muitas vezes os pais desabafam comigo, “não quero que aconteça ao meu filho o que aconteceu comigo”.
A boa novidade é que isso está ao vosso alcance. E garanto-vos que é bem mais fácil (e mais barato) prevenir problemas dentários e orais do que possam imaginar!
Hoje em dia acredita-se, e as principais recomendações nacionais e internacionais, vão no sentido de prevenir muito cedo. Mas quando eu digo muito cedo, é na barriga da mãe. Verdade! A formação dos dentes inicia-se por volta da 6.ª semana de gestação. Então faz sentido que comecemos desde esse momento. E faz diferença! Para terem uma ideia, existe evidência científica de que as condições orais da mãe, por exemplo a doença das gengivas, pode levar a parto prematura ou a bebés de baixo peso. Além disso alterações sistémicas durante a gravidez, como a falta de vitamina D, pode levar a alterações no esmalte dos dentes das crianças (mais amarelo e mais fraco).
Por isso recomendamos a consulta da grávida, no primeiro trimestre, e a consulta do pré-natal odontológico, que deve ocorrer no terceiro trimestre da gravidez. Enquanto a primeira é dirigida à saúde oral da mãe e aos cuidados durante os 9 meses de gestação, a última é direcionada ao bebé. Nesta consulta fornecemos todas as informações para cuidar da higiene oral do bebé, e os hábitos a implementar para garantir o correto desenvolvimento dos maxilares e das funções básicas.
Se pensarmos um pouco percebemos que o bebé, nos primeiros anos de vida, interage com o mundo através da boca. E estas funções básicas de que falei como respirar, mastigar, falar ou engolir irão todas desenvolver-se com base nestes primeiros comportamentos, que ficarão para o resto da vida.
Por isso a ideia é que seja acompanhada pelo médico dentista da criança, o odontopediatra, durante todo o crescimento, porque estes hábitos serão determinantes.
O odontopediatra sabe diferenciar e entender as necessidades da criança, torna o atendimento mais confortável e transmite segurança e tranquilidade aos pais. O comportamento carinhoso e amoroso do odontopediatra passa confiança à criança e alivia a ansiedade dos pais.
Em todas as minhas primeiras consultas tento transmitir estes conceitos aos pais. Demonstrar que a criança deve ser acompanhada como um todo, por uma equipa multidisciplinar, porque algumas alterações ou anomalias podem ser consequência de uma causa diferente e desconhecida, e que em primeiro lugar deve ser diagnosticada.
Para compreender melhor a que me refiro é importante esclarecer que a cavidade oral e a face são um sistema equilibrado e dinâmico. Sendo assim, sempre que existirem alterações da forma da face esta interferirá nas suas funções e vice-versa. Algumas destas alterações podem ter uma carga genética forte, mas devemos estar cientes que muitas delas são fortemente
influenciadas pelo padrão funcional dos músculos da face. Por isso, quanto mais cedo forem identificadas e diagnosticadas mais facilmente conseguiremos melhorá-las.
Assim que nascem os primeiros dentes, deve começar a escovar os dentes com escova de dentes com cerdas macias e pasta de dentes com 1000 ppm de flúor, na quantidade de um grão de arroz. Claro que não nos podemos esquecer que cada criança é diferente e por isso aconselhamos a primeira consulta no odontopediatra até ao primeiro ano de vida para receber
as orientações individuais e personalizadas a cada caso e família.
Acredite que se cumprir estas recomendações e o momento certo destas consultas irá garantir um sorriso livre de cáries e um crescimento das estruturas orofaciais equilibrado.
Texto escrito pela Dr.ª Inês Guerra Pereira – Odontopediatra – Autora do Blogue Denteadente.pt